• Autor: Wanir José Barroso
• Ano: 2003
• Fonte: Revista Riopharma (CRF-RJ)
• Qualificação do Autor:
• Sanitarista do CRPHF/MS, especialista em Pneumologia Sanitária. (wbarroso@netyet. com.br)
• Opinião:
• Com estatísticas crescentes, a tuberculose infecção e a tuberculose doença vêm representando há alguns anos um retrato fiel da saúde pública praticada nos países em desenvolvimento.
A transmissão da tuberculose pulmonar se dá de forma lenta, silenciosa e invisível aos nossos olhos, pelas pequenas gotículas (aerossóis) expelidas durante a fala, espirro ou tosse do paciente doente em ambientes pouco arejados. Todos somos suscetíveis diante de tais gotículas infectantes.
A tuberculose além de doença da miséria no Brasil e no mundo, não respeita fronteiras, classe social, cor da pele, sexo ou idade. Médicos, enfermeiros, assistentes sociais, farmacêuticos e técnicos de laboratório que estão à frente do diagnóstico e tratamento da tuberculose nas Unidades de Saúde engrossam estas estatísticas.
O não pensar em tuberculose diante de pacientes com sintomas respiratórios, não apenas retarda o diagnóstico e a inserção desses pacientes nos programas institucionais de tratamento, como também compromete a dimensão do risco ocupacional, subestima o risco biológico e coloca a biossegurança em tuberculose em um plano secundário.
Pensar em tuberculose e investir em biossegurança na Unidade de Saúde representa investir em qualidade, representa investir na proteção daqueles que estão na linha de frente do controle da tuberculose, representa investir na contenção de riscos. O uso de proteção respiratória adequada e a adoção de medidas administrativas e de controle ambiental nas Unidades de Saúde podem minimizar o risco biológico e deixar o ambiente de trabalho com níveis aceitáveis de risco ocupacional e de biossegurança.
Cada caso de tuberculose não diagnosticado, perdido no seio da população, geram cerca de 20 novos casos de tuberculose infecção ou doença no período de um ano. Entre todos os infectados, uns desenvolvem a doença e outros apenas a viragem tuberculínica. Quanto mais aglomerada viver a população, maiores as chances de transmissão do bacilo entre os que estão entorno do caso.
Cada caso que abandona o tratamento seqüencial de 6 meses, além da possibilidade de gerar novos casos, possibilita transformar o bacilo inicialmente sensível em um bacilo multirresistente (TBMR) às drogas prescritas em sua fase inicial.
Um paciente abandonador de tratamento, além de encurtar suas chances de cura, transforma seu novo tratamento em um tratamento doloroso, caro para os cofres públicos e penoso para a saúde pública, pois a possibilidade de surgirem novos casos de tuberculose primariamente multirresistentes a partir deste, passa a ser uma realidade. Não são raros, pacientes abandonadores de tratamento transformarem-se em pacientes sem possibilidades terapêuticas. Estes casos representam a pena de morte silenciosamente imposta pelo bacilo diante do abandono do tratamento. Não são raros também, pacientes serem abandonados pelas Instituições de Saúde.
O abandono de tratamento tem múltiplas causas que vão desde a desinformação sobre a doença, a prevenção e o tratamento, a falsa sensação de cura logo após o início do tratamento, os efeitos colaterais dos medicamentos, e principalmente à impossibilidade da Unidade de Saúde dar solução aos demais problemas que afligem o paciente doente, como a fome, o desemprego, o uso de drogas lícitas e ilícitas, o transporte, a educação e a moradia digna, arejada, limpa e com certo conforto.
Para controlar a tuberculose hoje no Brasil e no mundo, não basta apenas retirar o bacilo dos pulmões daqueles que conseguem suportar o tratamento nas Unidades de Saúde, mas lhes fornecer junto com o tratamento, alimentos, transporte inclusive para retornar periodicamente à Unidade de Saúde, moradia digna e arejada, esperanças de cura, de vida e de dias melhores.
Não devemos esperar que a tuberculose chegue à Unidade de Saúde em busca de socorro pelas próprias pernas. Ir ao seu encontro, localizá-la e mapeá-la, facilitar o acesso ao diagnóstico e tratamento dos infectados e doentes, aumentar o nível de informações sobre a doença além de promover o estabelecimento de parcerias comunitárias e institucionais deve ser meta e estratégia dos Programas de Controle. Caso contrário estaremos transformando os Programas de Controle de Tuberculose (PCT) em simples Programas de Tratamento de Casos que Aparecem. E a cada caso que aparece e consegue chegar, tem ainda atrás dele possivelmente muitos outros ainda por chegar. Este é o risco de explosão dessa Time Bomb, a tuberculose de hoje!
Fonte www4.enspfiocruz.br
(Imagens do município de Aracruz, Espírito Santo - Brasil) INFORMAÇÕES SOBRE SINAIS, SINTOMAS, DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO DE DOENÇAS E AGRAVOS DE INTERESSE DA SAÚDE COLETIVA. NÃO SERÃO FEITAS QUAISQUER TIPOS DE ORIENTAÇÃO QUE SEJAM DE ATRIBUIÇÃO MÉDICA. NÃO É ESTE O OBJETIVO DO BLOG, QUE, NO MOMENTO NÃO DISPÕE DE COLABORADORES HABILITADOS PARA TAL.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário